


Aspectos Ecológicos, Reprodutivos e Comportamentais de Momotus momota
Os Momotidae são aves florestais neotropicais endêmicas das Américas. A família possui seis gêneros e quinze espécies, dentre elas quatro espécies ocorrem no brasil, sendo elas: Electron platyrhynchum (Udu-de-bico-largo), Baryphthengus rufucapillus (Juruva), B. martii (Udu) e Momotus momota (Uru-de-coroa-azul), (Chapman, 1923). A espécie Momotus momota, aves monomórficas sedentárias com alta ocorrência em regiões de cerrado (Veloso, 2019), está distribuída mais amplamente em florestas de galeria, seguido por áreas de cerradão (30%) e cerrado (6%). Segundo Melo e Piratelli (1999), o udu-de-coroa-azul apresenta preferência por áreas de mata ciliar devido às formações vegetais típicas de margens de rios, que proporcionam condições favoráveis à nidificação, visto que a espécie deposita seus ovos em cavidades de barrancos. Esses territórios também são escolhidos devido à abundância de frutos e insetos, alimentos base para a espécie (Melo e Piratelli, 1999).
Quanto à reprodução, os indivíduos da espécie apresentam cuidado biparental, ou seja, machos e fêmeas se responsabilizam pelo cuidado da prole. A época de reprodução tem início em setembro e se estende até dezembro (Sick, 1997). Nesse período o macho e a fêmea copulam, realizando a nidificação em buracos de barrancos, construindo a cavidade de forma horizontal com pouco mais de 1 quilômetro de comprimento e chocando de dois a quatro ovos (Melo e Piratelli, 1999; Veloso, 2019). O período de incubação é de setembro até outubro e os ninhegos aparecem de setembro a dezembro. O período de incubação é sazonal e acompanha o período de início de chuvas, que aumenta a oferta de alimentos (frutos, artrópodes) (Vilela et al. 2016, apout Veloso, 2019).
Momotus momota são considerados monomórficos, apresentando longas retrizes terminando em forma de raquete. Essa estrutura é utilizada para emitir sinais visuais por meio de movimentos pendulares, desempenhando um papel importante na comunicação intraespecífica. Nos machos, a área total e a área preta da bandeira, localizadas no ápice da raquete, são significativamente maiores, tornando-as mais chamativas tanto para potenciais parceiros sexuais quanto para predadores. No entanto, estudos indicam que um maior comprimento da região azul da bandeira está associado a um menor sucesso reprodutivo.
A territorialidade de Momotus momota é evidente durante o período reprodutivo. Observações realizadas no Parque Natural de Morrinhos (GO) revelaram que os ninhos ativos estavam distribuídos com uma distância média de 83,6 ± 25,7 metros entre vizinhos, reforçando o comportamento territorial da espécie (Pesquero et al., 2014). Além disso, o hábito de nidificar em novos túneis a cada temporada, geralmente próximos aos utilizados anteriormente, pode estar relacionado à redução do acúmulo de ectoparasitas e ao aumento do sucesso reprodutivo (Skutch, 1971; Pesquero et al., 2014). Essa estratégia inclui o uso de folhas frescas, possivelmente como
medida de combate químico aos parasitas, comportamento incomum para espécies que não utilizam vegetação em seus ninhos (Pesquero et al., 2014).
As medições biométricas realizadas em casais durante o período reprodutivo indicam um leve dimorfismo sexual secundário, apesar da espécie ser considerada monomórfica. Estudos em Morrinhos (GO) demonstraram que os machos são, em média, maiores e mais pesados do que as fêmeas, apresentando diferenças significativas no comprimento corporal (40,5 cm em machos contra 38,5 cm em fêmeas) e no peso (120 g contra 110 g, respectivamente) (Veloso & Pesquero, 2018). Essas diferenças podem ser atribuídas à seleção sexual, onde o tamanho maior dos machos pode oferecer vantagens competitivas tanto em interações intraespecíficas quanto na seleção de parceiras (Murphy, 2008).
A dieta de Momotus momota é predominantemente onívora e desempenha um papel importante no desenvolvimento dos ninhegos. Durante o período de alimentação, tanto machos quanto fêmeas compartilham igualmente o fornecimento de alimentos, que inclui insetos, frutos e outros invertebrados (Yanara et al., 2015). Este comportamento parental bipartido, além de aumentar as chances de sobrevivência dos filhotes, também reflete o sistema de acasalamento monogâmico da espécie, reforçando a importância do cuidado cooperativo para o sucesso reprodutivo (Pesquero et al., 2014). Estudos adicionais, como testes de paternidade, poderiam ajudar a confirmar a fidelidade entre os casais observados.
Larissa Leal
REFERÊNCIAS
MELO, F. P.; PIRATELLI, A. J. Biologia e ecologia do udu-de-coroa-azul (Momotus momota: Aves: Momotidae). Ararajuba, v. 7, n. 1, p. 57-61, 1999.
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rua 19 de Maio, 148 - Centro, Barreiras - BA, 47800-250: Editora Nova Fronteira, 2001.
VELOSO, S. L. Biologia reprodutiva de Udu Momotus momota (Aves: Momotidae). 2019. Dissertação (Mestrado em Ambiente e Sociedade) – Universidade Estadual de Goiás, Morrinhos, 2019.